[esse texto começou a ser escrito em julho]
Amanhã é meu aniversário e eu faço 30 anos. Desde que me entendo por gente, eu quero ser mais velha. Meu pai brincava que eu nasci com a alma de 65 anos, porque com 3 eu já me divertia lendo e brincando de tomar chá com as amigas. Pra mim, envelhecer era ter liberdade. Fazer 18 anos era poder não dar mais satisfação pra ninguém.
Cada ano que passou de lá até aqui foi comemorado, sem angústia, sobre mais passos dados. Mais conhecimento. Mais maturidade. Mais clareza. Mais certeza de quem eu sou e menos certeza do mundo.
Eu tenho amigos que têm pelo menos 10 anos a mais e 10 anos a menos que eu. Pros mais velhos, eu sou muito jovem ainda. Eu não me vacinei, veja bem, realmente. Pros mais novos, eu sou muito adulta. Toda vez que eu falo “ah, gente, é porque eu sou velha, tenho paciência pra essas coisas não” (que é uma coisa que a gente adquire com a idade mesmo, saber com o que a gente dá a paciência ou não) eles sempre falam que não sou velha.
Outro dia fiz uns stories rindo porque eu tenho uma mecha de cabelos brancos (que fica em uns 2cm de grossura, é uma mecha bem aparente) bem no meio da cabeça, quase no limite da testa. Ela não aparece muito porque eu uso meu cabelo pro lado tem, provavelmente, quase 30 anos. Mas eu queria separar o cabelo ao meio - mais pela mecha que pela gen z - e o cabelo não fica. A maior parte dos comentários quando menciono a mecha é que “assim” é legal o cabelo branco.
Longe de mim criticar meus amigos, que eu sou velha mas não sou chata, mas sempre acho curioso como essa aversão à velhice - e olha que só tenho 30 anos e uma mecha de cabelos brancos. Eu nunca achei ruim envelhecer, exceto que o corpo começa a precisar de reparos e cuidados. Não sinto essa ansiedade que muita gente tem como se tivesse um limite aos 20 para aprender coisas novas. Não me sinto mal de fazer 30 anos. Já prevejo que grande parte dos parabéns amanhã vai vir com quase um alento de que tá tudo bem fazer 30, vai ser muito bom, eu vou ver.
E eu já sei disso. Eu não tenho nenhum problema em estar fazendo 30 anos, não tenho nenhuma crise sobre onde cheguei ou o que eu tô fazendo. Estar fazendo uma faculdade diferente, planejando uma mudança de carreira não me faz sentir atrasada em nada, muito pelo contrário, me sinto sem limites e barreiras. Meu cabelo branco não me deixa mal, não me sinto feia e não planejo cobrí-lo. Faz parte de ficar mais velha e, na verdade, eu gosto muito.
Toda vez que eu penso sobre isso eu me sinto meio arrogante. Porque eu sou mulher, estar confortável no meu corpo e gostar dele (salvo exceções) durante o processo de envelhecimento me parece uma afronta a todas as outras mulheres. Eu me sinto mal em falar sobre isso porque parece que estou dizendo pra quem se importa com essas coisas que isso é errado. Eu não acho que é certo ou errado, só acho que existe.
Eu acho errado como a sociedade constrói esse arquétipo de mulher que nunca envelhece, que nunca tem cabelo branco e que precisa esconder, evitar e corrigir as marcas na pele do tempo. Não à toa outro dia a internet tava chocada com alguma dessas cantoras pop super novinhas (acho que a Selena Gomez), onde o tuíte falava algo tipo “guardada no formol? Fulana faz 28 anos”. Ou 35 anos, não lembro. Formol, gente? Aiai.
Eu já tenho 30 anos tem algumas semanas enquanto termino esse texto que na época achei que ia parecer meio desgostosa de receber parabéns, mas lendo de novo acho que é esse embate entre quem se sente mal envelhecendo e quer dizer que vai ficar tudo bem e eu que não ligo muito pra isso querendo dizer que já tá tudo bem.
É claro que eu leio sobre botox preventivo, passo creme com vitamina C pra diminuir os efeitos oxidativos da vida na minha pele, mas tem uma coisa nisso tudo é que sempre me senti meio deslocada. Parafraseando meu pai: “Sou um velho, sempre fui. Sou apenas contemporâneo dos meus amigos”.
Beijos,
Cristal