Leituras recomendadas #3
As fotografias da Vivian Maier e tentar parar de crescer e ser tão genial o tempo todo.
A BELEZA DO ACÚMULO
No livro Cidade solitária, da Olivia Laing, ela cita a fotógrafa Vivian Maier quando tá falando sobre acumulação de objetos do Henry Darger:
“A questão do espaço era também significativa. A mesma retórica patologizadora que afeta Darger é também ativa em torno da fotógrafa e babá Vivian Maier, de Chicago. Assim como ele, ela trabalhava em isolamento, nunca mostrando suas fotografias para ninguém, e algumas vezes nem sequer revelando o filme. Com mais de 70 anos, ela foi obrigada a ir para um hospital, e já não tinha dinheiro para manter o armário onde guardava suas posses. Como é costume em casos assim, o conteúdo foi leiloado, caindo nas mãos de pelo menos dois colecionadores, que entenderam o valor de um arquivo de fotografias de rua daquela qualidade e escala. Aos poucos, suas 15 mil fotografias estão sendo reveladas, exibidas e vendidas, obtendo, assim como a obra de Darger, preços cada vez mais altos, um espetáculo constrangedor quando os próprios artistas eram tão pobres. Foram feitos dois documentários reconstituindo sua vida por meio de entrevistas a famílias para as quais ela trabalhou.”
E, logo na sequência, faz uma reflexão sobre esse acúmulo:
“Todas essas pessoas falam sobre a acumulação dela, a maneira como ela passou a vida juntando bugigangas. Ao assistir, não pude evitar a sensação de que as reações delas eram pelo menos sobre dinheiro e status social; sobre quem tem o direito à posse, e o que acontece quando pessoas excedem o número de posses que suas circunstâncias e posição comumente permitiriam. Eu não sei você, mas eu, se fosse solicitada a pôr tudo o que tenho num quartinho da casa de alguém, poderia muito bem parecer uma acumuladora. Embora nem a pobreza extrema nem a riqueza tornem alguém imune a desejar um excesso de posses, vale a pena perguntar sobre cada comportamento apresentado como estranho ou excêntrico se o limite transgredido é a classe, e não a sanidade.”
Eu já falei sobre acumulação de objetos nesse texto aqui, mas hoje queria recomendar o trabalho da Vivian. Talvez você já tenha visto, mas eu ando aficcionada nas fotografias dela, em especial as selfies:
Tem uma riqueza de luz e sombra, de composição nessas fotos, que nem sei. Eu amo particularmente como ela gosta de se fotografar em reflexos como no caso da 2ª foto da galeria. Essa construção quase que parece uma dupla exposição. E pensar que ela tava fazendo isso sei lá, nos anos 40? 50? 60?
As minhas favoritas são as preto e brancas, mas tem umas coloridas lindíssimas também:
Dá pra ficar horas no site oficial indo e voltando. Ainda bem que ela acumulou os filmes ao longo dos muitos anos e que alguém achou.
FICAR NA MÉDIA
“Tomando cuidado para não fazer carreira”: num mundo orientado para o crescimento infinito, dá pra pensar em não continuar crescendo e se satisfazer? Aqui:
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