Leituras recomendadas #5
Ser sustentável não é mais suficiente - o que é verdade mesmo
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SER SUSTENTÁVEL É COISA DO PASSADO,
A NOVA MODA AGORA É REGENERAR
A nova moda é ser “regenerativo” e não mais “sustentável”. Nada contra, aliás, eu acho ótimo… MAS. Tava lendo essa matéria da Folha sobre um encontro de líderes do turismo de luxo (sim) pra aplicar práticas regenerativas nos seus projetos e me chamou atenção essa parte que se fala dessa evolução dos adjetivos usados:
“"O termo regenerativo visa melhorar um destino, não sustentá-lo apenas como ele é", complementa Frankenberg.
Assim como outras palavras vão se modelando e ganhando alterações devido a fatos recentes, outros termos e adjetivos relacionados ao turismo também recebem novas adequações.
"Falávamos em turismo ecológico, depois ecoturismo, que era uma prática de turismo na natureza, e aí veio a questão da sustentabilidade", explicou Simone Scorsato, CEO da BLTA.”
Bom, eu, que gosto de um dicionário, queria comparar essas duas palavras e fazer uma reflexão do uso delas:
Sustentável é aquilo que tem condições para se manter ou conservar, ou seja, pressupõe que o que queremos defender ainda existe, como uma floresta em pé. Regenerar, por sua vez, pensa ou dá sentido em recuperar, formar-se de novo, dar nova existência. Ou seja, pressupõe refazer o que já foi destruído.
No livro “Resista: não faça nada: A batalha pela economia da atenção” da Jenny Odell, ela traz um conceito que achei interessantíssimo quando li: de destruir as coisas ruins. O exemplo que ela traz é da construção de uma barragem de San Clemente, na Califórnia, que foi construída em 1921 e passou a ser um risco social e ambiental ao longo dos anos por perigo de inundação com terremotos, risco de extinção de espécies. A solução encontrada? Destruir a barragem e refazer o leito do rio. Achei essa dissertação que dá mais detalhes da obra, pra quem ficou curioso.
Depois de contar sobre isso, ela fala o seguinte:
“Nosso ideal de progresso está tão ligado ao conceito de construir algo sobre o mundo que o associar à destruição, à remoção e à reparação parece um contrassenso. Esse aparente paradoxo, no entanto, revela uma contradição ainda mais profunda: a de que a destruição (de ecossistemas, por exemplo) era vista como uma construção (de barragens, por exemplo). No século 19, os conceitos de progresso, produção e inovação consideravam a terra como um espaço em branco, um grande gramado americano que, para ser cultivado, os habitantes e sistemas que o povoavam até então deveriam ser extraídos como ervas daninhas. Se reconhecermos honestamente tudo o que havia aqui antes, cultural e ecologicamente, entenderemos que o que era considerado construção se tratava na verdade de destruição.”
Quando eu li pela primeira vez isso no livro, pensei imediatamente na barragem de Belo Monte. Já sabemos que gerou um impacto absurdo; que não produz tanta energia quanto se esperava; que quase mais atrapalha que ajuda; destruí-la e refazer o leito não ia apagar o impacto, obviamente, mas daria conta de recuperar, formar-se de novo, dar nova existência aquele espaço.
Claro que, voltando pra matéria da Folha, esse esforço tá sendo pensado por isso aqui:
“Uma coisa é certa: o turista preocupado com a preservação do planeta está, sim, disposto a pagar mais pelas tais práticas regenerativas, e o Brasil tem capacidade para isso.”
Já eu e a Jenny estamos pensando em recuperar áreas importantes do planeta pensando em sobrevivência, em manutenção da nossa vida no planeta, em bem estar.
Mas se eu pudesse apostar, diria que veremos as soluções sustentáveis sendo apresentadas como regenerativas a partir de agora – eu já ouvi de algumas empresas isso, inclusive. E acho que é uma boa mudança, porque se a gente não tentar recuperar o que foi destruído, não vai ser suficiente só manter o que está em pé hoje em dia. A gente podia inclusive usar como exemplo alguns locais que fizeram projetos nesse sentido (só consigo pensar em exemplos na Europa, se tiverem mais, aceito a recomendação).
Por hoje, era isso.
Um bom feriado :)
Beijos,
Cristal Muniz
Eu to numa ecovila que chama Sitiom em Vargem Grande (pro meu TCC) O terreno era uma plantaçao de café que tinha escravos e agora eles tao com essa proposta agroflorestal e de reparar as relacoes, até pq tem gnt do bairro próximo que descendente de escravos do terreno. Tem algo de regenerativo aqui com ctz
Só passando para dizer que adoro a newsletter, casa vez que vejo ela na minha caixa de email da um quentinho no coração