Às vezes, quando eu tô mal, eu tenho vontade de comprar meias novas. Jogar fora as meias velhas, rasgadas-e-costuradas, com elástico estragado, que não servem mais. E comprar meias novas. Não sei porque, mas tenho a sensação de que com os pés protegidos, nada de mal pode me acontecer, mesmo que eu já esteja mal. É uma proteção pra mim mesma, que fica escondida, só eu vejo, só eu sei que tá ali. Mas tá.
Outro dia, sentada no sofá, olhando pros pés, pensei que era hora de comprar meias novas. Queria me proteger, começando pelos pés. Deixar eles quentinhos e cobertos de bichinhos, se possível. Começando assim, não tem como errar.
Uma amiga me disse: “a gente nunca sai ileso de um relacionamento”, mas a gente nunca sai ileso de nada, na verdade. Pra morrer, basta estar vivo. Pra ficar mal, também. Por mais que eu cubra os pés.
Vestir meias novas. Abraçar o cachorro. Sentir o gato se aconchegar nas suas costas. Puxar a coberta. Usar o pijama que tem um tecido que faz carinho. Fechar os olhos. A gente tenta criar uma camada, uma estrutura, algo que dê conta e proteja. Do que, da vida?
A última vez que eu fiquei muito mal, eu não vesti meias. Nem reais nem metafóricas. Eu taquei elas longe.
Quando eu abro a gaveta de meias e procuro meias que não estão ali, talvez eu esteja procurando me proteger depois, do que já me atingiu. Como se fosse possível desfazer, com o carinho e calor, o que me fez ficar mal, numa solução fácil: se esconder.
Um beijo,
Cristal Muniz.
Ps: eu tô bem, tá?
uso meias mesmo no verão, gosto do contorno que elas me dão.
<3
Recentemente eu comprei meias, de bolinhas. Não tava exatamente mal, mas tava não tava exatamente bem. Seu texto fez muito sentido. Nossos pés são nosso contato básico com a terra, nossa primeira vulnerabilidade né...Tipo quando a gente sonha que tá descalço numa situação que não deveria estar...Minhas meias de bolinhas disfarçam um pouco minha vulnerabilidade! 💚