Não os vizinhos humanos, os vizinhos-planta e os vizinhos-bicho. Apesar da gente viver como se o mundo fosse um mundo humano e, com generosidade ativa nossa, também um mundo de outros seres vivos, a verdade é que é o contrário. Por isso minha pergunta é também um convite pra explorar seu entorno: que árvores são suas vizinhas? Que animais você encontra no seu entorno?
Aqui, só no meu condomínio tem árvore de tudo que é tipo: pitangueiras, amoreiras, goiabeiras mas também uma acácia-amarela, um flamboyant que fica lindo quando floresce e uma dama da noite bem na entrada que perfuma o entra e sai das pessoas.
Já meus vizinhos bichos são interessantes, porque moro do lado do mar. E alguns pássaros claramente vivem aqui. Eu não sabia direito a espécie deles ainda, e outro dia olhando pra eles fiquei pensando se vai ser possível eu identificar (e dar nomes) pra eles todos. São umas cinco espécies que ficam mais próximas e mais constantes e muitas vezes, interagem entre si.
Achei as melhores fotos possíveis de uma observadora de aves pra mostrar pra vocês meus vizinhos:
Eu fiquei pensando nisso de tanto observar meticulosamente os bichos e plantas que moram comigo durante a pandemia. Estar em casa sem sair deu a chance de acompanhar dia a dia o crescimento de algumas plantinhas. Eu até fiz um vídeo do ressuscitamento da comigo-ninguém-pode que eu achei que não ia sobreviver depois da (sei lá qual vez) derrubada do vaso que o gato Tofu deu nela.
Eu cortei o caule que já tava super longo e que só tinha sobrado 1 folha em 2 pedaços e enterrei os dois. Uns meses depois, quando eu já tinha desistido e estava pensando que não tinha funcionado, surgiu uma pontinha de uma folha crescendo e, desde então, muitas folhas seguem nascendo (sigo me emocionando):
Comecei a observar mais meus vizinhos-vivos-não-humanos depois de ler o livro Resista: não faça nada da Jenny Odell porque ela fala de vários pássaros que ela "acompanha" que vivem na região dela. Em alguma das palestras online que tem dela pra ver, tem inclusive umas fotos bem engraçadas desses pássaros. Como eu não entendo quase nada de pássaros, tive que ficar pesquisando no google que espécie era a que ela tava falando, enquanto lia o livro, pra traduzir e entender. Uma das espécies que ela cita é muito parecida (se não a mesma) que o que é meu vizinho: o Socó-dorminhoco ou “Black-crowned Night-Heron”.
Outro dia um desses tava assim: em cima do telhado de um barzinho que fica na calçada quando começa o passeio da praia na frente de casa. Ela ficava olhando pra baixo pras pessoas, com esse olho vermelho, que dá a impressão que ele está de olho arregalado e prestando muita atenção. Eu, que costumo falar com bichos, passei rindo e dei oi olhando pra cima.
Eu tô falando isso tudo porque acho que é uma maneira interessante, pessoal e bonita, da gente se reconectar com o planeta. A gente fica nessa jornada mecânica e artificial de linha reta, perfeição, crescimento infinito e esquece que somos seres circulares. Que tudo ao nosso redor é vivo também e faz parte de quem nós somos. Que natureza é tudo que está ao nosso redor.
Comece a identificar que plantas tem ao seu redor. Que espécies de pássaros cantam na sua janela. Que tipos de vida existem pra fora da sua janela. O mundo anda muito duro, mas lembrar que a natureza é a natureza, viva e viva, me ajuda muito todos os dias.
Beijos,
Cristal Muniz
Esse texto foi publicado originalmente na newsletter do blog Uma Vida Sem Lixo em 05 de março de 2021 e resolvi trazer pra cá pra ter esse arquivo aqui, com alguns ajustes. Você sempre pode: comentar no site ou responder esse email pra dizer o que achou. :)
Terminei um livro ontem, que imagino que tu já conheça, e acho que conecta com teu texto! É o A Maravilhosa Trama das Coisas da Robin Wall Kimmerer, sobre conhecimento ancestral/indígena e preservação/recuperação da terra, intimidade com as plantas e bichos, gratidão e reciprocidade. Achei belíssimo <3
Que texto bonito, me identifico muito com ele porque sou assim também, converso com pássaros, cachorros, gatos e quaisquer outros animais que apareçam. Moro num bairro com vários terrenos baldios, mas que está crescendo, na esquina havia um em que uma família de jacus viviam entre as árvorese arbustos.. começaram a remover a vegetação e agora raramente os vejo, é um microcosmo que se perde.