Se tem uma coisa que me move é a força da raiva. Eu acho que sou uma pessoa relativamente tranquila, bastante paciente e que deixa muita coisa pra lá. Mas experimenta dizer que eu tô errada quando eu sei que eu tô certa, por exemplo. É pedir pra levar na cara uma porção de coisas que eu vou catar pra te provar que eu não tô errada. Quando eu sei que não tô errada, claro. Aí eu vou até o fim. *drama*
Eu não acho que seja uma coisa muito boa ser movida na força da raiva, inclusive eu trabalho meios de trocar essa força motriz, mas fato é que ainda sou (pro bem e pro mal). Porque veja bem, quando eu tô com raiva, eu entro num buraco negro de confirmar o que eu quero confirmar e só saio do buraco quando tô com a planilha pronta.
Acho que foi a Angela Davis que falou algo sobre como a raiva é boa pra gente usar como motor, diferente do ódio que é depressivo em certo sentido. Eu concordo com ela (ou a autora da frase), acho sim que o ódio nos endurece e causa uma apatia que não acontece com a raiva. O ódio corrói por dentro, a raiva transparece por fora. A gente esquenta, sua, a bochecha fica vermelha, a respiração forte. É um movimento de expansão. O ódio não, ele é uma âncora que vai pesando pra baixo e pra baixo e pra baixo cada vez mais.
Eu não gosto de brigar, por mais contraditório que isso possa parecer, ainda mais nessa altura do texto que você tá lendo. Mas eu não gosto de ser dita mentirosa, especialmente porque eu sou muito cuidadosa, gosto de ler e pesquisar. Talvez seja o meu trabalho que é me expor nas redes que deixou esse caminho da raiva tão potente. Pro bem e pro mal, como eu disse. Inclusive alguns dos meus melhores posts e pesquisas eu fiz justamente quando aconteceu algo que me fez borbulhar de raiva. Eu quase falo em voz alta “Aé? Então tá, espera só pra você ver” enquanto recolho o que for preciso pra prova dos 3 (ou dos 9?) da vez.
O lado bom é que a raiva propulsiona pra ir além do que se iria em condições normais de temperatura e pressão. O lado ruim é que depois a gente sente uma ressaca imensa de toda movimentação do estresse no corpo.
É por isso que apesar dela ser bem útil em alguns momentos eu trabalhar pra saber dosar a avalanche. Não que dê pra segurar, porque quando a raiva vem vindo, não tem muito o que fazer. Na melhor das hipóteses dá pra fugir um pouco, igual quando vem uma onda muito grande e você mergulha bem fundo pra não sentir a pancada dela quebrando. Lá embaixo você sente como se fosse só uma mini ondinha. Mas assim como a raiva isso tem que ter uma certa antecipação, só funciona com tempo hábil de mergulhar lá embaixo. Se estiver na cara da onda, aí esquece, capote na certa. Que é o que a raiva faz – pega de supresa e passa um choque pelo corpo.
É assim mesmo que eu sinto: como se tivesse levado um choque. Depois vem a boca seca, a dor na barriga, uns calafrios. Até a visão parece que volta, que o foco melhora.
Bom demaisss Cris!! Gostoso ler algo assim mais solto, quase q uma conversa. Feliz por vc ter criado essa newsletter!